Era dezembro, começávamos a respirar os ares do natal. O tempo estava
úmido, uma garoa fina caia já fazia alguns dias ao mesmo tempo em que
sentíamos o ar quente e abafado do verão. Eu e meus irmãos já estávamos
de férias e dentro de casa sem muita coisa para fazer dávamos vazão à
imaginação tramando a próxima peraltice. Aguardávamos ansiosos pelo dia
de natal quando como de costume ganharíamos os nossos presentes os quais
eram colocados debaixo da cama. Pensávamos que o bom velhinho com
barbas brancas passaria após adormecermos a fim de deixar o que tínhamos
pedido. Tentávamos nos manter acordados mas como já era de se esperar:
adormecíamos.Eu já estava crescendo e tinha certa desconfiança de que na
verdade quem comprava os presentes era papai. Foi então que embora
relutassem consegui persuadir meus dois irmãos a encontrarmos o local
onde papai guardava os presentes. Modéstia parte, sempre fui uma boa
detetive, sempre gostei de desvendar mistérios. Isto talvez me desafiou e
me motivou a procurar o tal esconderijo. Agora, era uma questão de
honra.
Certo dia, nos encontrávamos sozinhos. Papai havia saído cedo
para trabalhar e mamãe também não se encontrava em casa, não me lembro
onde ela foi mas me lembro de ter a certeza de que ela não voltaria tão
cedo. Era o momento oportuno para revirarmos a casa em busca dos
pacotes. Mas, onde estariam estes presentes? eu já havia procurado nos
locais mais fáceis como dentro e em cima dos guarda roupas, atrás de
armários... na verdade, não havia muitos lugares para se procurar a não
ser que... Mas é claro, só poderia estar em cima do forro. Papai
costumava guardar ali através de um alçapão feito no teto da cozinha as
ferramentas e coisas que ele queria conservar. Com certeza eles estavam
ali. Mas tinha um problema, era muito alto, nós éramos pequenos e
parecia impossível alcançar o teto da cozinha. Resolvemos usar a mesa,
ela era de madeira bem rústica e forte o que era o principal, ela não
era suficiente para alcançar, colocamos então, em cima da mesa uma
cadeira. Bem, vamos ver se já consigo alcançar, disse a meus irmãos,
subi na mesa e depois na cadeira, estiquei os pés até ficar na pontinha e
também os braços, não! Ainda não conseguia alcançar, faltava um
pouquinho para chegar lá. O que poderíamos colocar? Ah! Já sei, sabe
aquela lata de tinta? Perguntei a meu irmão, pegue-a e vamos colocar em
cima da cadeira. Ele buscou-a e nós a colocamos em cima da cadeira,tentei
mais uma vez, Ah! Agora sim, agora vamos ver o que tem aqui em cima,
enquanto eu estava lá no alto perto do teto da cozinha, meus irmãos
estavam em baixo curiosos para saber se nossos presentes estavam lá.
Tirei a tampa do forro e devagarzinho, com certo medo de cair olhei lá
para dentro. Confesso que meu coração disparou e meus olhos devem ter
brilhado ao descobrir que os pacotes estavam lá. Para falar a verdade
não sei se o prazer foi maior por saber que teríamos presentes no natal
ou por ter superado meu pai ao encontrá-los. Comecei então a
beliscá-los, bem no cantinho para ver o que tinha dentro. Puxa! meu jogo
de damas! Que legal! Dizia a meus irmãos, eles ficaram eufóricos, veja
se o meu está aí? Veja se o meu está ai? Fui então beliscando um por um
até saber se os presentes pedidos estavam todos lá. Sim! Papai havia se
lembrado de todos. A missão estava completa, estava orgulhosa de mim
mesma. Desci cuidadosamente da armadilha que nós havíamos construído,
rapidamente colocamos as coisas no lugar para que mamãe não percebesse.
Ficamos rindo por dentro, de satisfação, nos gabando por termos
conseguido driblar a segurança.
Esta peraltice poderia ter tido graves
consequências, eu poderia ter caído e me machucado mas esta, é uma outra
história. Tive certeza naquele dia que Papai Noel não era real. No
fundo, no fundo, talvez tenha ficado decepcionada, não sei, não me
lembro; só sei que durante toda a minha vida, alguém que é maior que
Papai Noel tem preenchido a minha vida totalmente. Ele é real, seu amor é
maior que o mundo. Ele é chamado de Maravilhoso, Conselheiro, Deus
Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz. (Is. 9:6). Seu nome é Jesus!
o presente de Deus para mim, para você e para toda a humanidade .
(jo.3.16)
Marcia Amaral
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