15 de setembro de 2012

Testemunho - Mamãe, eu vou encontrar com meus irmãos que foram comprar bala para mim...

Era manhã do ano de 1991 ou início de 1992 (não me recordo bem o ano). Fazia pouco que tínhamos chegado a S.Paulo em V. Nivi . Morávamos na casa nos fundos da igreja. Ela havia sido construída de forma que tinha um corredor comprido para aproveitar o espaço atrás do templo e ficava no segundo piso, no nível do templo.
Meus filhos tinham na época mais ou menos : Israel 8 anos, Jessé 6 anos e Esteves de 1 a 2 anos de idade.
Eu nos meus afazeres de casa, sempre correndo de um lado para outro pois o dia era pequeno e tinha de começar cedo. Tinha só a parte da manhã para lavar, passar, limpar, cozinhar, cuidar das crianças e prepará-las para a escola e ainda tinha a minhas vendas pois na época fazia salgados para fora. A parte da tarde era dedicado à visitação. Deixávamos as crianças na escola e já saíamos, voltando somente a tardinha a tempo de pega-las.
Bom, nesta manhã especificamente, Israel e Jessé levantaram cedinho e foram para o gabinete do pai que era na torre da igreja, naquela época o único espaço que achou-se disponível para se fazer o mesmo. Lá tinha um computador que Roberto havia comprado(o que era novidade naquele tempo) os meninos estavam empolgados para mexer um pouquinho. Saíram de fininho para que o pequeno Esteves não os atrapalhasse (coisa de criança).


Enquanto lavava minha louça, dezenas de pensamentos começaram a passar por minha cabeça e então começaram a surgir as vozes de meus filhos falando comigo as quais com a minha agitação, não havia prestado a atenção:
- Mamãe vou encontrar com meus irmãos, eles foram comprar bala para mim! Mas como? Os meninos não foram comprar bala, eles estão no escritório do pai.
Derrepente, estremeci, fiquei arrepiada com o que me ocorreu. Meu Deus!
Comecei a chamar meu filho: Esteves, Esteves, Olhei em todos os cômodos da casa, debaixo das camas, podia ser que ele estivesse brincando de se esconder e nada.
Desci as escadas correndo, Perguntei então ao irmão João Rizola que na época era o zelador da igreja se ele o tinha visto. A resposta foi não.
Fui até ao gabinete para ver se ele não tinha subido até lá mas ele não estava, Roberto e os meninos também desceram para ajudar a procurar, Irmão Rizola então foi procurá-lo nas dependências da igreja e nada. A esta altura eu já estava em pânico e irmão Rizola já começou a chorar e a clamar a Deus. Saí pela rua desesperada, desci a avenida Guapira, avenida principal e extremamente movimentada e comecei a perguntar se alguém tinha visto uma criança de uns 2 anos descendo a avenida. O dono de um chaveiro a uns 300 metros da igreja disse que viu um menino com uma calça azul e chinelinho descendo a avenida. Ele perguntou onde é que ele ia e o menino respondeu que ia encontrar seus irmãos que tinham ido comprar bala para ele. Eu disse:- É este mesmo, Fui avenida abaixo, clamando ao Senhor em espírito que tivesse misericórdia e me ajudasse a encontrar meu filhinho. A esta altura o tremor tomou conta de meu corpo, o coração disparou e a respiração era ofegante. Continuei procurando e perguntando, alguns diziam que tinham visto o menino descrito mas não sabiam para onde tinha ido.
Voltei para casa correndo ,Roberto que também saíra para procurar tinha voltado, pegamos o carro para que pudéssemos ir mais longe e mais rápido mas nada de encontrar nosso filho. Comecei então a pensar que talvez não o encontrasse mais.
Como iríamos achar um menino de quase dois anos numa cidade tão grande como S.Paulo? Quem sabe alguém o achou e o levou para uma delegacia, ou para um local que acolhe crianças perdidas ou de rua? Quem sabe alguém não se aproveitou da situação e levou meu filhinho embora? E se algo mais grave tivesse acontecido com ele?
Sempre fui muito zelosa com meu filhos. Sempre preocupada se estavam se alimentando bem e o que estavam comendo afim de que estivessem sempre nutridos. Não tínhamos muitos recursos para estar sempre comprando roupas novas mas cuidava de suas roupinhas, lavando-as e passando-as para que estivessem sempre arrumadinhos, limpinhos e bonitinhos.Me esforçava para estar sempre presente em suas tarefas escolares Trabalhava de noite limpando nossa casa para que tivesse um pouco mais de tempo durante o dia para cuidar de meus filhos , marido e também cuidar da obra do Senhor e de nosso ministério. Então não podia ser descuido de minha parte, foi uma fatalidade, o inesperado, crianças são assim: devemos esperar o inesperado e toda a atenção é pouco.
Quando ouço e vejo algumas reportagens na TV de algumas fatalidades que acontecem com crianças, consigo entender o que muitas mães estão passando e sofrendo e sinto também a dor . É certo que infelizmente tem o outro lado da moeda, mães que não estão nem ai para seus filhos e que os deixam jogados sem o mínimo de cuidado mas esta é outra historia, não se pode generalizar as coisas.
Bom, depois de procurar muito voltamos para casa na esperança de que alguém tivesse notícias para nos dar. Naquele momento de desespero o que podíamos fazer era orar , tentar nos acalmar um pouco e crer que Deus iria trazer nosso filho de volta.
Quando chegamos no portão da igreja de longe vimos uma pessoa que conversava com irmão João no pátio e que estava com uma criança no colo. Sim! era nosso filho. Corri até eles e quando o Esteves me viu, ele abriu os bracinhos e se jogou no meu colo deitou a cabeça no meu ombro e só chorou, chorou, chorou. Eu chorei junto, inúmeras coisas se passaram em mi nha cabeça naquele momento . Estive a ponto de perder o meu filho e Deus mais uma vez me socorreu. Lembrei-me do Salmo que diz: “ Na minha angústia clamei ao Senhor... “
Depois que nos acalmamos a pessoa nos disse que o menino estava descendo a avenida Guapira , ele trabalhava numa imobiliária do outro lado da rua,Ele ficou temerosos de que a criança continuasse a descer a avenida e tentar atravessá-la. ele o levou para lá e procurou conversar com ele para saber alguma coisa. Esteves então foi respondendo as perguntas como: os nomes do papai e da mamãe e também o endereço de casa e telefone e o nome da igreja (Quando chegamos a S.Paulo eu e Roberto fizemos com que nossos filhos decorassem todas estas informações caso tivéssemos alguma emergência).
Aquele homem foi usado por Deus para proteger nosso filho e trazê-lo de volta para nós. Nunca mais o vi, nem fiquei sabendo o nome dele mas meu coração será eternamente grato.
Depois deste acontecimento Roberto Esteves não quis mais falar sobre o assunto. Com o passar do tempo, as vezes perguntávamos a ele o que aconteceu naquele dia e ele sempre mudava de assunto ou dizia que não sabia. Somente depois de muitos anos foi que Ele conseguiu nos contar toda a história.
Mesmo nos momentos difíceis podemos aprender lições preciosas.. Aprendi a valorizar ainda mais meus filhos e a cuidar deles como jóias muito preciosas que me foram entregues por Deus, não para exibi-las, esnobá-las mas para poli-las, cuidar delas afim de que elas estejam prontas para serem usadas por Deus no tempo certo. Como família pude transmitir, depois, com calma, reforçando valores a eles como o de sempre falar a verdade. Mamãe sempre nos dizia que “Por mais feia que seja a verdade é mais bonita que a mentira”. Foi uma mentira inocente mas que poderia ter custado muito caro. Prov.12.19   A mentira tem vida curta, mas a verdade vive para sempre.
Criar filhos será sempre uma aventura, mas que aventura maravilhosa será se for vivida tendo Cristo como o Guia de nosso lar. Se você ainda não convidou Jesus para tomar o seu lugar em seu lar, é hora de fazê-lo, garanto que você não vai se arrepender.
Feliz aventura,
Márcia Amaral

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