Era manhã do ano de
1991 ou início de 1992 (não me recordo bem o ano). Fazia pouco que
tínhamos chegado a S.Paulo em V. Nivi . Morávamos na casa nos
fundos da igreja. Ela havia sido construída de forma que tinha um
corredor comprido para aproveitar o espaço atrás do templo e ficava
no segundo piso, no nível do templo.
Meus filhos tinham
na época mais ou menos : Israel 8 anos, Jessé 6 anos e Esteves de
1 a 2 anos de idade.
Eu nos meus
afazeres de casa, sempre correndo de um lado para outro pois o dia
era pequeno e tinha de começar cedo. Tinha só a parte da manhã
para lavar, passar, limpar, cozinhar, cuidar das crianças e
prepará-las para a escola e ainda tinha a minhas vendas pois na
época fazia salgados para fora. A parte da tarde era dedicado à
visitação. Deixávamos as crianças na escola e já saíamos,
voltando somente a tardinha a tempo de pega-las.
Bom, nesta manhã
especificamente, Israel e Jessé levantaram cedinho e foram para o
gabinete do pai que era na torre da igreja, naquela época o único
espaço que achou-se disponível para se fazer o mesmo. Lá tinha um
computador que Roberto havia comprado(o que era novidade naquele
tempo) os meninos estavam empolgados para mexer um pouquinho.
Saíram de fininho para que o pequeno Esteves não os atrapalhasse
(coisa de criança).
Enquanto lavava
minha louça, dezenas de pensamentos começaram a passar por minha
cabeça e então começaram a surgir as vozes de meus filhos falando
comigo as quais com a minha agitação, não havia prestado a
atenção:
- Mamãe vou
encontrar com meus irmãos, eles foram comprar bala para mim! Mas
como? Os meninos não foram comprar bala, eles estão no escritório
do pai.
Derrepente,
estremeci, fiquei arrepiada com o que me ocorreu. Meu Deus!
Comecei a chamar meu
filho: Esteves, Esteves, Olhei em todos os cômodos da casa, debaixo
das camas, podia ser que ele estivesse brincando de se esconder e
nada.
Desci as escadas
correndo, Perguntei então ao irmão João Rizola que na época era
o zelador da igreja se ele o tinha visto. A resposta foi não.
Fui até ao gabinete
para ver se ele não tinha subido até lá mas ele não estava,
Roberto e os meninos também desceram para ajudar a procurar, Irmão
Rizola então foi procurá-lo nas dependências da igreja e nada. A
esta altura eu já estava em pânico e irmão Rizola já começou a
chorar e a clamar a Deus. Saí pela rua desesperada, desci a avenida
Guapira, avenida principal e extremamente movimentada e comecei a
perguntar se alguém tinha visto uma criança de uns 2 anos descendo
a avenida. O dono de um chaveiro a uns 300 metros da igreja disse que
viu um menino com uma calça azul e chinelinho descendo a avenida.
Ele perguntou onde é que ele ia e o menino respondeu que ia
encontrar seus irmãos que tinham ido comprar bala para ele. Eu
disse:- É este mesmo, Fui avenida abaixo, clamando ao Senhor em
espírito que tivesse misericórdia e me ajudasse a encontrar meu
filhinho. A esta altura o tremor tomou conta de meu corpo, o coração
disparou e a respiração era ofegante. Continuei procurando e
perguntando, alguns diziam que tinham visto o menino descrito mas não
sabiam para onde tinha ido.
Voltei para casa
correndo ,Roberto que também saíra para procurar tinha voltado,
pegamos o carro para que pudéssemos ir mais longe e mais rápido mas
nada de encontrar nosso filho. Comecei então a pensar que talvez não
o encontrasse mais.
Como iríamos achar
um menino de quase dois anos numa cidade tão grande como S.Paulo?
Quem sabe alguém o achou e o levou para uma delegacia, ou para um
local que acolhe crianças perdidas ou de rua? Quem sabe alguém não
se aproveitou da situação e levou meu filhinho embora? E se algo
mais grave tivesse acontecido com ele?
Sempre fui muito
zelosa com meu filhos. Sempre preocupada se estavam se alimentando
bem e o que estavam comendo afim de que estivessem sempre nutridos.
Não tínhamos muitos recursos para estar sempre comprando roupas
novas mas cuidava de suas roupinhas, lavando-as e passando-as para
que estivessem sempre arrumadinhos, limpinhos e bonitinhos.Me
esforçava para estar sempre presente em suas tarefas escolares
Trabalhava de noite limpando nossa casa para que tivesse um pouco
mais de tempo durante o dia para cuidar de meus filhos , marido e
também cuidar da obra do Senhor e de nosso ministério. Então não
podia ser descuido de minha parte, foi uma fatalidade, o inesperado,
crianças são assim: devemos esperar o inesperado e toda a atenção
é pouco.
Quando ouço e vejo
algumas reportagens na TV de algumas fatalidades que acontecem com
crianças, consigo entender o que muitas mães estão passando e
sofrendo e sinto também a dor . É certo que infelizmente tem o
outro lado da moeda, mães que não estão nem ai para seus filhos e
que os deixam jogados sem o mínimo de cuidado mas esta é outra
historia, não se pode generalizar as coisas.
Bom, depois de
procurar muito voltamos para casa na esperança de que alguém
tivesse notícias para nos dar. Naquele momento de desespero o que
podíamos fazer era orar , tentar nos acalmar um pouco e crer que
Deus iria trazer nosso filho de volta.
Quando chegamos no
portão da igreja de longe vimos uma pessoa que conversava com irmão
João no pátio e que estava com uma criança no colo. Sim! era
nosso filho. Corri até eles e quando o Esteves me viu, ele abriu os
bracinhos e se jogou no meu colo deitou a cabeça no meu ombro e só
chorou, chorou, chorou. Eu chorei junto, inúmeras coisas se passaram
em mi nha cabeça naquele momento . Estive a ponto de perder o meu
filho e Deus mais uma vez me socorreu. Lembrei-me do Salmo que diz: “
Na minha angústia clamei ao Senhor... “
Depois que nos
acalmamos a pessoa nos disse que o menino estava descendo a avenida
Guapira , ele trabalhava numa imobiliária do outro lado da rua,Ele
ficou temerosos de que a criança continuasse a descer a avenida e
tentar atravessá-la. ele o levou para lá e procurou conversar com
ele para saber alguma coisa. Esteves então foi respondendo as
perguntas como: os nomes do papai e da mamãe e também o endereço
de casa e telefone e o nome da igreja (Quando chegamos a S.Paulo
eu e Roberto fizemos com que nossos filhos decorassem todas estas
informações caso tivéssemos alguma emergência).
Aquele homem foi
usado por Deus para proteger nosso filho e trazê-lo de volta para
nós. Nunca mais o vi, nem fiquei sabendo o nome dele mas meu coração
será eternamente grato.
Depois deste
acontecimento Roberto Esteves não quis mais falar sobre o assunto.
Com o passar do tempo, as vezes perguntávamos a ele o que aconteceu
naquele dia e ele sempre mudava de assunto ou dizia que não sabia.
Somente depois de muitos anos foi que Ele conseguiu nos contar toda a
história.
Mesmo nos momentos
difíceis podemos aprender lições preciosas.. Aprendi a valorizar
ainda mais meus filhos e a cuidar deles como jóias muito preciosas
que me foram entregues por Deus, não para exibi-las, esnobá-las mas
para poli-las, cuidar delas afim de que elas estejam prontas para
serem usadas por Deus no tempo certo. Como família pude transmitir,
depois, com calma, reforçando valores a eles como o de sempre
falar a verdade. Mamãe sempre nos dizia que “Por mais feia que
seja a verdade é mais bonita que a mentira”. Foi uma mentira
inocente mas que poderia ter custado muito caro. Prov.12.19
A mentira tem vida curta, mas a verdade vive para sempre.
Criar filhos será
sempre uma aventura, mas que aventura maravilhosa será se for
vivida tendo Cristo como o Guia de nosso lar. Se você ainda não
convidou Jesus para tomar o seu lugar em seu lar, é hora de
fazê-lo, garanto que você não vai se arrepender.
Feliz aventura,
Márcia Amaral
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